domingo, 31 de janeiro de 2010

Elas assinaram o manifesto em defesa de Itaparica

Sonia Coutinho - Nascida em Itabuna (BA), é escritora, tradutora e jornalista. Autora de "O último verão de Copacabana", "Atire em Sofia", "Os venenos de Lucrecia (Prêmio Jabuti - 1979) e "Os seios de Pandora" (Prêmio Jabuti - 1999), entre outros livros. Alguns de seus trabalhos foram publicados em antologias no Brasil, Alemanha, Estados Unidos, Holanda, México, Canadá e Polônia.

Aninha Franco - escritora, advogada, dramaturga e administradora do Teatro XVIII, no Pelourinho. Autora de "O teatro na Bahia através da imprensa - século XX" (Casa de Palavras, 1994). (Foto: Nublog)

Eles assinaram o manifesto em apoio a João Ubaldo Ribeiro e Itaparica

Jomard Muniz de Britto - escritor, professor e cineasta. Autor do livro “Do Modernismo à Bossa-Nova”, prefaciado por Glauber Rocha em 1966. Tem ligação "intergeracional" com o grupo Mapa, da Bahia. "Em louvor da famigerada família PE-BA assumo mais uma reivindicação do nosso grande João Ubaldo, relembrando Glauburu, Joca, Peres e toda intergeração MAPA: abraços do Jomard Muniz de Britto, o famigerado JMB"

Emanoel Araújo - escultor, desenhista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo. Fundador do Museu Afro-Brasil e ex-diretor do Museu de Arte da Bahia e da Pinacoteca de São Paulo. Para Emanoel Araújo, a Baía de Todos-os-Santos precisa ser tombada. "O anúncio da ponte é tão extraordinário que termina ficando somente no anúncio", diz. (Foto: Juan Esteves)


Ruy Espinheira Filho - poeta, escritor e ensaísta. Autor dos livros "Memória da Chuva" (1996), "Tumulto de Amor e Outros Tumultos - Criação e Arte em Mário de Andrade" (2001) e "Forma e alumbramento - poética e poesia em Manuel Bandeira (2004).

'Ponte é negociata', diz João Ubaldo

Jornal da Metrópole, número 83

Jornal da Metrópole – O senhor concorda que as prefeituras e a comunidade da Ilha de Itaparica estão em segundo plano na discussão sobre o projeto da ponte?
João Ubaldo Ribeiro – Não interessa ao Estado comunicar nada aos municípios. A ilhanunca foi ouvida, escutada ou cheirada, sobretudo quando a dividiram em dois municípiosde maneira estapafúrdia para criar duas câmaras de vereadores. Uma coisa que não tinha necessidade. Não será agora diferente.

JM – Por que o senhor é contra a construção da ponte?
JUR – Itaparica será adicionada à área urbana de Salvador e não suburbana, porcausa do encurtamento da distância. Para quem estiver na Barra, a depender de ondesairá a ponte, estará mais perto da ilha do que de Pernambués. O que acontecerácom os terrenos baldios daqui dando sopa? Invasão até na minha porta. Isso aconteceem São Paulo, por que não aconteceria aqui? Quando o sujeito tiver como ir da Lapaaté Itaparica, por exemplo, e tudo isso sem nenhum preparo, será um desastre.

JM – A ponte não seria uma alternativa ao sistema precário do ferryboat?
JUR – O ferryboat de Salvador é um sistema falido, mas não por uma causa inerente aele. O ferry funciona no mundo inteiro, como na Escandinávia e no Canal da Mancha,em condições extremamente adversas e com um inverno rigoroso. Mas esse não é nossocaso. O ferryboat dá certo em toda parte, só não funcionana Bahia, porque não dá dinheiro graúdo. Qual é a inferência lógica para quemestá habituado à realidade nacional? Ele não dá dinheiro. A ponte dá. Com R$ 150 milhões,daria para colocar três ferries do tipo Ivete Sangalo e o negócio bem administrado não ocasionaria filas. Até no Maranhão, que é muito mais pobre que a Bahia, o sistema funciona bem.

JM – Por que há desinteresse do Estado em melhorar o sistema ferryboat?
JUR – Inicialmente, para valorizar a especulação imobiliária no litoral norte porcausa dos resorts, empreendimentos e as propriedades de lá. Então, ficou muito maisdifícil para o baiano ter seu lazer na ilha do que no litoral norte. Agora, não interessarecuperar o ferryboat ou apenas equipá-lo decentemente, porque é pouco dinheiro paraas propinas, para os superfaturamentos, para a goela dos que vivem no Brasil nas tetas do Estado.

JM – Alguns moradores da ilha são a favor da ponte por causa dos enormes problemas e desconforto do sistema ferryboat...
JUR – Incita-se a revolta da população da ilha contra o ferryboat e por isso muitos são a favor da ponte, porque não imaginam o que essa construção vai acarretar.

JM – Para o senhor, qual é o verdadeiro interesse do Estado em construir a ponte?
JUR – É só para faturar essa ponte, inventando que se está planejando de acordo com ascaracterísticas e a vocação do lugar. Não está planejando coisa nenhuma, já vimos esse filme 200 mil vezes. É para empulhar, tomar dinheiro e para fazer que diabo de negociata que eu já não sei mais...

sábado, 30 de janeiro de 2010

Participe do Manifesto Itaparica!

Vivendo do Ócio, MTV

Olá amigos. Quero aproveitar esse espaço para defender um patrimônio brasileiro que está sendo ameaçado pela ganância das empreiteiras. Com o metrô parado há anos (que se inaugurar já será reformando, pois já as estruturas e vagões parados estão se destruindo), escolas, hospitais e bairros precisando de melhorias, quer construir um diabo de uma ponte pra acabar com a paz e a beleza da Ilha de Itaparica, sem dúvida seria bem mais útil usar esse dinheiro para melhorar a ilha, ou arrumar um jeito de melhorar o sistema de travessia (Ferry-boat) que não é lá essas coisas. A ponte não é a única solução, já tem Ferry que faz a travessia em 28min, é só trocar toda a frota, não é tão simples, mas é mais barato do que acabar com a Baía de Todos Os Santos.

O escritor baiano João Ubaldo Ribeiro é contra a construção da ponte, Salvador. Segundo ele, a construção de um monumento ao empreendedorismo desalmado, pode acabar com a tranqüilidade da ilha e transformá-la em um local repleto de resorts e hotéis de luxo. Amigos do escritor coletam assinaturas para um manifesto chamado "Itaparica ainda não é adeus". Entre eles estão Luiz Fernando Veríssimo e Hélio Pólvora. Os emails podem ser enviados para manisfestoitaparica@gmail.com.

Como baiano, me sinto no direito de defender minha terra e peço a todo mundo, mesmo que não seja baiano, pra participar do manifesto, é tudo uma questão de defesa ambiental.Obrigado.

Jajá

Dia 13 tem Vivendo do Ócio no Palco do Rock no Carnaval de Salvador, quem estiver na cidade aproveita pra dar um pulo lá, será na praia de Piatã, o evento começa pela tarde com várias bandas, tocaremos lá pelas 20h.

29/01/2010 - 14:36

por Vivendo do Ócio

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Romancista recebe manifesto em Salvador

Antes da inauguração da nova filial da livraria Saraiva, no shopping Iguatemi, em Salvador, o escritor João Ubaldo Ribeiro recebeu uma cópia do manifesto "Itaparica: ainda não é adeus", entregue pelas jornalistas Zoraide Vilasboas e Olívia Soares. "Aqui é minha terra, nunca vou deixar de vir aqui", disse o romancista, patrono da Saraiva Iguatemi, rebatendo as críticas à sua moradia no Rio de Janeiro.

O ex-procurador-geral do Estado Antonio Guerra Lima (foto) e o músico Walter Queiroz Júnior, ambos da "Geração Mapa", foram alguns dos amigos de Ubaldo presentes ao evento. Com grande presença de leitores, a noite acabou se desdobrando numa sessão de autógrafos. Nas conversas entre estantes, o apoio à defesa da Ilha de Itaparica e da Baía de Todos-os-Santos.

(Fotos: Osvaldo Campos)

Ubaldo: "E Ruy Barbosa, morou onde?"

Nota da coluna Tempo Presente, de Levi Vasconcelos, Jornal A Tarde

‘E RUY BARBOSA, MOROU ONDE?’ – Ao receber
ontem o manifesto ‘Itaparica ainda não é
adeus’, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o maior
crítico da ponte, respondeu aos que o criticaram
dizendo que ele mora no Leblon:

– E Caetano Veloso, mora onde? E Gil? E
Octávio Mangabeira? E Ruy Barbosa, o mais
ilustre dos baianos? Nem por isso eles deixam
ou deixaram de amar a Bahia. Como eu,
que tenho o umbigo preso a Itaparica.

Emanoel Araújo propõe tombamento da Baía de Todos-os-Santos

Do site Terra Magazine:

Claudio Leal


Emanoel Araújo: em defesa da Baía de Todos-os-Santos

Nas anotações de "turista aprendiz", a bordo do navio Manaus, o escritor Mario de Andrade descreveu perplexidades ao avistar a encosta de Salvador, em dezembro de 1928: "Da vista de S. Salvador que a gente enxerga de bordo tem um pedaço bem no centro em que as casas se amontoam num estardalhaço de janelas, andares, telhados, parece mentira... não é mentira não, é estardalhaço".

Se um viajante refizesse a trajetória do polígrafo Mario de Andrade, e na Baía de Todos-os-Santos existisse uma hipotética ponte de 13 km, entre a primeira capital do Brasil e a Ilha de Itaparica, o "estardalhaço" do casario certamente seria substituído pela visão de uma serpente de concreto.

Para preservar o conjunto dessa joia ambiental, o artista plástico Emanoel Araújo, fundador do Museu Afro-Brasil e ex-diretor da Pinacoteca de São Paulo, propõe a salvaguarda da Baía de Todos-os-Santos, que corre o risco de ganhar uma ponte bilionária anunciada pelo governador baiano Jaques Wagner (PT). Emanoel se associou ao escritor João Ubaldo Ribeiro na defesa da Ilha de Itaparica e do mar da Bahia.

- A Baía de Todos-os-Santos tem que ser tombada. Porque sempre foi motivo de relatos históricos de viajantes, como o de Maria Graham (escritora britânica, 1785-1842) e Maximiliano da Áustria, que descreve o esplendor. Não se pode simplesmente criar uma ponte cortando essa baía, porque ela tem uma inteireza, vai pelo Recôncavo e forma essa magnitude. Tem que ser respeitada essa geografia. Se quiser fazer um caminho rápido, que se faça por Feira de Santana. Esse anúncio da ponte é tão extraordinário que termina ficando somente no anúncio - ironiza o artista.

Emanoel Araújo teve um enfrentamento recente com o governo do Estado (clique aqui). Convidado a expor no Museu Rodin Bahia, do qual foi idealizador, ele enfrentou um oceano de burocracias e desistiu da travessia em corredores estatais depois que pediram seu currículo. Em tom de conselho, Emanoel diz a Ubaldo:

- O governador (Jaques Wagner) não tem credibilidade nenhuma. Isso é um anúncio de campanha eleitoral. Ubaldo, não se despeça de Itaparica, a ponte não vai sair! Mas a degradação da Ilha vai continuar por conta de todos os farofeiros. Não acredito que vão fazer essa ponte. E, além do mais, pra quê? Não tem sentido nenhum.

Para o ex-diretor do Museu de Arte da Bahia, o governo baiano "não tem a menor capacidade para tocar nenhum projeto com essa magnitude."

- Tive a experiência do Museu Rodin. Eles tiveram sete anos pra organizar e o que fizeram lá é uma lástima.

Cravo Albin denuncia "impostura e vilania"

Assim como Emanoel Araújo, o musicólogo Ricardo Cravo Albin, fundador do Museu da Imagem e do Som, assinou o manifesto "Itaparica: ainda não é adeus", em apoio à campanha de João Ubaldo Ribeiro. E vincula a cobiça de empreiteiras e imobiliárias sobre o paraíso ecológico baiano com o que ocorre em outras cidades brasileiras, a exemplo de Penedo, em Alagoas. Cravo Albin, um dos maiores conhecedores da história da Música Popular Brasileira, deixou uma mensagem no momento em que apoiou o romancista:

- A indignação de Ubaldo não é só legítima e necessária. Vai além, muito além. É um grito - talvez uma prece até canônica - contra o farisaísmo dessa canalha que usurpa todo um País em nome - meu Deus! - do progresso. Eu nunca me acostumei a aceitar tamanha impostura e vilania. Empreendi, recordo agora, uma campanha para salvar a cidade colonial de Penedo, terra de minha mãe, de uma ponte medonha que ligaria Alagoas a Sergipe. E tive que lutar inclusive contra meus parentes.

O musicólogo completa:

- Mas vencemos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Movimento ganha força: Escritor recebe manifesto hoje no Iguatemi


Do Nublog:

Continua dando pano pra manga o movimento criado em torno da crônica “Adeus, Itaparica”, do escritor João Ubaldo Ribeiro, que questiona a construção da ponte Salvador-Itaparica e pede que seja reaberto o debate em torno da obra. A nova é que o escritor vai receber hoje (28/1, às 19h), na Livraria Saraiva do Iguatemi, o manifesto elaborado por jornalistas e amigos, o Itaparica: ainda não é adeus.

Em entrevista ao nublog, um dos membros do grupo, o jornalista Claudio Leal, explicou que o manifesto foi construído “como uma catedral gótica”, uma construção coletiva com a contribuição de um grupo inicial de cerca de 15 pessoas dispostas a dizer que
João Ubaldo Ribeiro não é uma voz isolada, muito menos um escritor passadista. “A questão é sobretudo de poesia. Não dá para silenciar diante de crimes contra o meio ambiente e o patrimônio histórico da Bahia”, protesta. “Houve mil trocas de ideias sobre o teor do manifesto”, completou.

Para não deixar Ubaldo sozinho, aglutinaram-se amigos de Ubaldo (Sebastião Nery, Antonio Guerra Lima, Ângelo Roberto, Milze Soares), professores (Roberto Albergaria, André Setaro, Marlon Marcos) e os jornalistas Vitor Pamplona, Olívia Soares, Franciel Cruz, Lília de Souza, Patrícia França, Eliano Jorge, Emanuella Sombra, Nelson Barros Neto, Josélia Aguiar, Saymon Nascimento, Ceci Alves, Patrick Brock. Assinaram ainda ontem (27/1) Cacá Diegues e Milton Hatoum (autor de "Dois Irmãos"). Aderiram ao movimento também Walter Queiroz Júnior e Sonia Coutinho.

Ping pong
Alguns tecnocratas, como o secretário de Planejamento da Bahia, Walter Pinheiro, incomodados com a crônica de João Ubaldo, dizem que ele só vai à Ilha no verão. Leal responde: “Esquecem que Ubaldo tem com Itaparica uma relação telúrica e a levou para a literatura universal”.

Milton Hatoum: "Voracidade de empreiteiros não tem limites"


Do site Terra Magazine:

Claudio Leal

O romancista João Ubaldo Ribeiro esqueceu as férias na Ilha de Itaparica e montou, na casa em que nasceu, um QG de resistência à construção de uma ponte sobre a Baía de Todos-os-Santos, anunciada pelo governador Jaques Wagner (PT). Um plano de expansão imobiliária é outra ameaça ao belo pedaço da costa baiana, diante do frontispício da primeira capital do Brasil, Salvador.

Depois de publicar a crônica "Adeus, Itaparica", um libelo contra os "sacerdotes de Mamon" (ídolo do culto à riqueza), Ubaldo ganhou a solidariedade dos escritores Luis Fernando Verissimo, Milton Hatoum, Jomard Muniz de Britto, Edson Nery da Fonseca, Fernando da Rocha Peres, Hélio Pólvora e Sonia Coutinho, do cineasta Cacá Digues, além de amigos, artistas, professores e intelectuais baianos. Nesta quinta-feira, o artista plástico Emanoel Araújo também assinou o manifesto "Itaparica: ainda não é adeus".

O governo da Bahia anunciou para breve o edital de "manifestação de interesse" na construção da bilionária Ponte Salvador-Itaparica, de 13km. O jornal A Tardeinformou que as empreiteiras OAS e Odebrecht, dois dos maiores grupos brasileiros de engenharia civil, municiam o governo com anteprojetos.

Um dos escritores solidários a Ubaldo, o amazonense Milton Hatoum (autor de "Dois Irmãos" e "Cinzas do Norte") critica:

- Mais um crime contra uma das belas cidades brasileiras. A voracidade desses empreiteiros não tem limite.

Hatoum lembra também a construção da ponte sobre o rio Negro, de Manaus a Iranduba, orçada inicialmente em R$ 574 milhões, com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

- Enquanto isso, Manaus cresce que nem um favelão, e nisso não é diferente de Salvador - completa o romancista.

Mário Cravo Jr.: "Se bela, por que não?"

O projeto da ponte baiana ganha o respaldo dos usuários insatisfeitos com o precário sistema de navegação marítima entre Salvador e Itaparica. "O ferry boat precisa ser desmoralizado pra poder a população ficar contra", acusa João Ubaldo.

O escultor Mário Cravo Júnior, 86 anos, precursor do modernismo na Bahia, prefere aguardar a divulgação oficial do projeto, mas defende "uma concorrência no mínimo nacional".

- Quero deixar antes de tudo evidente o meu respeito pelas opiniões dos artistas e intelectuais sobre uma possível edificação da ponte sobre a Baía de Todos os Santos, conectando Salvador e a Ilha de Itaparica - ressalva o escultor.

Desde a década de 1940, Mário Cravo tem uma presença de relevo na cultura baiana, como aglutinador do movimento de arte moderna, e conquistou projeção internacional com suas obras escultóricas. A ponte teria sua "aprovação do ponto de vista formal".

- Uma ponte sobre a nossa Baía de Todos os Santos, como todas as outras pontes sobre todas as outras baías na face da Terra, teria a minha aprovação sob o ponto de vista formal; ou seja, na solução criativa ou não desta ponte... No momento, opiniões pró ou contra uma ponte não me interessam, mas sim que solução foi apresentada até o momento como forma arquitetônica. Simplificando: se for uma bela ponte, por que não? - opina Cravo Júnior.

Walter Pinheiro tenta ironizar João Ubaldo. Tenta, vai!


Do blog Política Livre:


Diz o jornal A Tarde que o secretário estadual de Planejamento, Walter Pinheiro, teria criticado, de forma indireta, em entrevista ontem à rádio Excelsior, o escritor João Ubaldo Ribeiro por sua posição crítica com relação à construção da ponte ligando Salvador a Itaparica, pela qual (a ponte, claro!) a OAS e a Odebrecht se apaixonaram.

Tentando ser irônico, segundo os ouvintes da rádio, ainda de acordo com o relato de A Tarde, teria dito o secretário: “Esse pessoal que mora fora da Bahia e vem à ilha de vez em quando pode até criticar a ponte. Importante é quem mora na ilha.” Mas que respostazinha esfarrapada! Talvez o problema seja justamente este… geográfico:

Walter Pinheiro não consegue entender que enquanto ele, secretário, mora em Salvador ( e não na Ilha), João Ubaldo mora no mundo. A propósito, o texto de João Ubaldo sobre a ponte pode ser lido na íntegra clicando aqui.

João Ubaldo: "Bahia tem descaso horroroso com patrimônio"

Do site Terra Magazine:

Claudio Leal

O escritor João Ubaldo Ribeiro poderá dar alívio aos que desconfiam do poder de uma crônica. E que Rubem Braga nos ouça. Com 655 palavras, em "Adeus, Itaparica", Ubaldo conquistou o apoio de escritores, artistas, professores, jornalistas e demais profissões, como dizem os radialistas, para a defesa da Ilha de Itaparica, ameaçada pela construção de uma ponte sobre a Baía de Todos-os-Santos, anunciada pelo governador baiano Jaques Wagner (PT).

Em solidariedade ao romancista itaparicano, e contra o projeto bilionário da ponte de 13km, nasceu o manifesto "Itaparica: ainda não é adeus", que conta com as assinaturas do cineasta Cacá Diegues, dos escritores Luis Fernando Verissimo, Milton Hatoum, Sonia Coutinho, Jomard Muniz de Britto, Hélio Pólvora e Edson Nery da Fonseca, do jornalista Sebastião Nery, além de companheiros da "Geração Mapa" (aglutinada por Glauber Rocha), como o poeta Fernando da Rocha Peres, os artistas plásticos Sante Scaldaferri e Ângelo Roberto, o ex-procurador-geral da Bahia Antonio Guerra Lima, entre outros.

- Vejo que não estou falando no vazio. A Ilha de Itaparica não é um patrimônio só dos itaparicanos. É um patrimônio brasileiro - declara Ubaldo, em entrevista aTerra Magazine.

Apesar do apoio de intelectuais baianos e nacionais, o romancista tem enfrentado uma campanha negativa dos partidários da ponte e de filiados ao PT. De "romantismo não enche barriga" a "ele mora no Leblon", os torpedos dos adversários lhe soam como... "burrice". Ubaldo responde aos que cobram seu endereço postal:

- Dizer que não se mora aqui é uma perfeita burrice. Dorival Caymmi morava onde? Ruy Barbosa morava onde?... O governador morou onde esse tempo todo? - ironiza, referindo-se ao carioca Jaques Wagner.

Para o autor do clássico "Viva o povo brasileiro", a Bahia tem um "descaso horroroso" com o patrimônio histórico e o meio ambiente. Ubaldo afirma que o caos do ferry boat, na ligação marítima entre Salvador e Itaparica, é proposital, para justificar a contrução de uma ponte bilionária. Há filas imensas durante feriados prolongados. Segundo o jornal A Tarde, as construtoras OAS e Odebrecht são as fontes dos anteprojetos do empreendimento.

- A população tem toda razão em ficar com raiva do ferry boat e querer a ponte... Não vai se esperar do povo a mentalidade de um urbanista -sustenta o escritor.

Antes, enfatiza:

- Com R$ 120 milhões, R$150 milhões se resolve o problema do ferry boat e se passa a administrar bem. É uma solução que está em qualquer canto do mundo. Até no Maranhão, que é um Estado pobre, o ferry boat funciona. Aqui não pode funcionar...

Leia a conversa com o neto de Ubaldo Osório, o romancista João Ubaldo Ribeiro.

Terra Magazine - Como o senhor avalia o manifesto em apoio a sua campanha contra a ponte na Baía de Todos-os-Santos?
João Ubaldo Ribeiro - Com alegria. Porque vejo que não estou falando no vazio. A Ilha de Itaparica não é um patrimônio só dos itaparicanos. É um patrimônio brasileiro. É um patrimônio nacional, não só histórico como geográfico, com um potencial turístico maravilhoso, com várias áreas ainda de Mata Atlântica. E já tem ponte! É a Ponte do Funil. Li o texto de uma jornalista, Ana Muniz, que foi da Tribuna da Bahia, com argumentos bons. Vale a pena ler. ( clique aqui ) Se o serviço de ferry boat fosse administrado, não teria problema nenhum. Agora, eles não querem. Com R$ 120 milhões, R$150 milhões se resolve o problema do ferry boat e se passa a administrar bem. É uma solução que está em qualquer canto do mundo. Até no Maranhão, que é um Estado pobre, o ferry boat funciona. Aqui não pode funcionar...

Um argumento falho do governo?
Em primeiro lugar, já tem ponte. E a Ponte do Funil não vai suportar mais esse tráfego. Um sujeito que passa seis horas no
ferry boat de hoje, pode passar três ou quatro pra vir por Santo Antonio de Jesus, dirigindo, em vez de mofar na fila.

Falam de sua residência no Rio...
Dizer que não se mora aqui é uma perfeita burrice. Dorival Caymmi morava onde? Ruy Barbosa morava onde?

Alguns secretários e assessores do governo se incomodam com isso. Esquecem a presença de Itaparica em seus romances?
É. O governador morou onde esse tempo todo? Itaparica é conhecida no mundo inteiro, está nas enciclopédias! Isso é chato porque parece que eu estou me gabando. Mas é verdade. Ponho na orelha dos livros: "Nasceu em Itaparica". Vem gente conhecer por causa dos meus livros, as pessoas vêm me procurar.

O projeto dessa ponte está dentro de uma série de atentados contra o patrimônio histórico e o meio ambiente em Salvador, na Bahia?
Um descaso horroroso. Como estou dizendo, o
ferry boat precisa ser desmoralizado pra poder a população ficar contra. É isso que estão fazendo. A população tem toda a razão em ficar com raiva do ferry boat e querer a ponte. Porque não é obrigação da população, reduzida culturalmente pelo fato que é a pobreza, a falta de educação formal... Não vai se esperar do povo a mentalidade de um urbanista. Eles vão votar na solução mais rápida, que vá ao encontro das necessidades deles. Ou seja: "Botem logo a merda dessa ponte porque eu não vou passar sofrendo aqui". Só que isso é a curtíssimo prazo, porque, no dia seguinte, com a inauguração da linha "Praça da Sé-Baiacu" (ri) É verdade... "Terminal da Lapa-Misericórdia", não sei o quê, Amoreiras... No outro dia não tem mais um terreno de sobra aqui na Ilha, que será invadida... Um pepino gigantesco. Agora, esse negócio de morar... Por exemplo, o presidente Lula precisa dormir nas ruas de São Paulo pra saber as condições dos moradores de rua de São Paulo? Tenho certeza que esse é um bom combate.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Verissimo, Milton Hatoum e Cacá Diegues apoiam João Ubaldo contra a ponte na Baía de Todos-os-Santos




Do blog
Bahia em Pauta:

O manifesto em apoio ao romancista João Ubaldo Ribeiro, que fez um libelo contra a construção da Ponte Salvador-Itaparica sobre a Baía de Todos-os-Santos, ganhou o apoio nesta quarta-feira dos escritores Milton Hatoum e Sonia Coutinho, do cineasta Cacá Diegues, do músico Walter Queiroz Júnior e do artista plástico Sante Scaldaferri.

Os escritores Luis Fernando Verissimo e Hélio Pólvora reforçaram ontem o abaixo-assinado “Itaparica: ainda não é adeus”, que mobiliza intelectuais, artistas, jornalistas e ativistas baianos em protesto contra o projeto bilionário do governo da Bahia, cujo edital já foi anunciado pelo secretário de Planejamento, Walter Pinheiro (PT). “Sobre as águas calmas e azuladas de Yemanjá vai se erguer um monumento ao empreendedorismo desalmado?”, indaga o manifesto.

Segundo o jornal A Tarde, as empreiteiras OAS e Odebrecht fazem estudos para a obra defendida pelo governador Jaques Wagner (PT). Se for construída, a ponte terá uma extensão de 13 km, comprimento próximo ao da Rio-Niterói. “Sei em que conta me terão os que querem a ponte e não têm como dizer que só estão mesmo é a fim de grana, venha ela de onde vier e como vier”, escreveu João Ubaldo Ribeiro, na comovente crônica “Adeus, Itaparica”, publicada em A Tarde e na revista eletrônica Terra Magazine.

Compraram a batalha itaparicana os amigos e companheiros de “Geração Mapa” (liderada por Glauber Rocha): os poetas Fernando da Rocha Peres e Fred de Souza Castro, o advogado Antonio Guerra Lima e o pintor Ângelo Roberto.

“Conheço os argumentos farisaicos dos proponentes da ponte, ávidos sacerdotes de Mamon, autoungidos como empresários socialmente responsáveis”, atacou Ubaldo.”Eles se baseiam em premissas inaceitáveis, tais como uma visão imediatista, materialista e comprometida irrestritamente não só com o capital especulativo, que já está pondo as mangas de fora no Recôncavo, como aquele que investe aqui usando os mesmos padrões aplicados em Pago-Pago ou na Jamaica.” Ele também denuncia a degradação urbana da Ilha, que registra casos bárbaros de violência. Com a ponte, acredita, sua terra natal virará um subúrbio de Salvador.

Residente no Rio de Janeiro, João Ubaldo passa o verão em Itaparica, na mesma casa em que nasceu, na Rua do Canal, número um – herdada do avô materno, o historiador Ubaldo Osório. O romancista itaparicano levou a Ilha e seus habitantes às páginas de suas principais obras, como “Viva o povo brasileiro” e o recém-lançado “O albatroz azul”. ”
É bem possível que a ponte seja mesmo construída, mas, pelo menos, não traio meu velho avô”, disse o escritor e cronista de “O Globo” e do “Estado de S. Paulo”. Com o apoio de Hatoum e Verissimo, três dos maiores autores brasileiros se engajam na defesa da Baía de Todos-os-Santos e do paraíso ecológico baiano.

O manifesto pode ser lido e assinado neste link:http://www.gopetition.com/online/33669.html

A ponte que balança

Da coluna Tempo Presente, do jornal "A Tarde" de 27/01/2010:

Com o artigo ‘Adeus, Itaparica’, publicado domingo em A TARDE, o escritor João Ubaldo Ribeiro jogou água na ponte do governo (a Salvador-Itaparica). Amigos de Ubaldo coletam assinatura para o manifesto ‘Itaparica ainda não é adeus’ (pelo e-mail manifestoitaparica@ gmail.com). A pedida: reabrir a discussão sobre a ponte. O conceito: não permitir que sobre as águas calmas e azuladas de Iemanjá se erga um monumento ao empreendedorismo desalmado. Entre os primeiros signatários estão Luiz Fernando Veríssimo e Hélio Pólvora.

Manifesto apoia João Ubaldo: "Itaparica: ainda não é adeus". Proposta é discutir a ponte















Do blog
Bahia em Pauta:

Por Claudio Leal, Franciel Cruz, Maria Olivia Soares, Saymon Nascimento e Vitor Pamplona

A crônica “Adeus, Itaparica” (22/01/2010, A Tarde), do escritor João Ubaldo Ribeiro, provocou a formação de um abaixo-assinado em apoio ao autor de “Viva o povo brasileiro”, em defesa da Ilha de Itaparica e favorável a um debate público sobre a prioridade da bilionária Ponte Salvador-Itaparica, defendida pelo governo do Estado.

Entre os signatários de primeira hora, os escritores Luis Fernando Verissimo e Hélio Pólvora, o jornalista Sebastião Nery e os integrantes da Geração Mapa (companheiros de Ubaldo), Ângelo Roberto, Antonio Guerra Lima, Fernando da Rocha Peres, Fred de Souza Castro e Milze Soares.

Os professores Roberto Albergaria e André Setaro e o poeta Ruy Espinheira Filho também assinaram o manifesto que solicita uma resposta oficial do governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner (PT), ao polêmico artigo do romancista. “Este texto, necessário, oportuno, com a devida contundência, eu assino e dou fé”, afirmou o cineasta Tuna Espinheira, diretor de “Cascalho”.

A coleta de assinaturas está sendo feita por e-mail (manifestoitaparica@gmail.com) e por meio de uma petição online ( http://www.gopetition.com/online/33669.html ).

A iniciativa partiu de um grupo de jovens jornalistas e veteranos, escritores e amigos geracionais de João Ubaldo Ribeiro, dispostos a não permitir que “sobre as águas calmas e azuladas de Yemanjá” se erga “um monumento ao empreendedorismo desalmado”.

A meta é recolher assinaturas em todo o País e chamar atenção para a ameaça do megaempreendimento ao ecossistema da Ilha e à Baía de Todos-os-Santos. O texto final será remetido ao governador Jaques Wagner e ao romancista itaparicano, que já foi informado sobre o movimento da sociedade civil. “(Ubaldo) não está sozinho em seus questionamentos”, diz o abaixo-assinado.

Abaixo-assinado "Itaparica: ainda não é adeus"

"Adeus, Itaparica do meu coração, adeus, raízes que restarão somente num muro despencado ou outro, no gorgeio aflito de um sabiá sobrevivente, no adro de uma igrejinha venerável por milagre preservada"

(João Ubaldo Ribeiro)

Os abaixo-assinados, cidadãos brasileiros, encontraram no emocionante e esclarecedor artigo "Adeus, Itaparica" (Jornal A Tarde, 22/01/2010), de autoria do escritor João Ubaldo Ribeiro, argumentos consistentes e equilibrados para inaugurar um debate amplo sobre o anteprojeto de construção da Ponte Salvador-Ilha de Itaparica, anunciado pelo governo do Estado da Bahia. O itaparicano João Ubaldo, cujos romances puseram a Ilha na geografia literária brasileira e universal, é uma voz qualificada para questionar elementos sombrios e outros mais claros do empreendimento, previsto como bilionário para os cofres públicos e incerto para o destino ecológico e econômico da maior ilha marítima do Brasil. O autor de "Viva o povo brasileiro" não está sozinho em seus questionamentos e nos incorporamos a eles nos seguintes pontos:

1. É dever do governo do Estado da Bahia abrir um abrangente debate público sobre o projeto da Ponte Salvador-Itaparica, cujo edital de parâmetros para a construção foi anunciado pelo secretário de Planejamento, Walter Pinheiro. Entendemos que uma obra dessa dimensão deve ser discutida previamente com o povo baiano em audiências públicas (sobretudo nos municípios de Salvador, Itaparica e Vera Cruz), e não imposta por decisão unilateral do Estado.

2. Lamentamos o anúncio do anteprojeto de uma ponte de 13km sem a realização prévia de um estudo aprofundado de impacto ambiental, histórico e econômico. Representantes da administração estadual alegam vantagens de naturezas diversas, numa polifonia oficial ruidosa e nebulosa quanto às metas do governo. Será a ponte a via tecnicamente mais adequada para melhorar a logística da economia estadual e ao mesmo tempo revigorar a Ilha sem prejudicar suas características?

3. O precário serviço terceirizado de transporte marítimo (ferry-boat) Salvador-Itaparica não é um argumento sólido para justificar a construção de uma ponte faraônica e abracadabrante. Os cidadãos têm direito a um serviço público razoável e eficiente. Cabe ao governo oferecê-lo, como oferecem vários governos ao redor do mundo.

4. Não é clara a prioridade do projeto para o desenvolvimento econômico da Bahia, nem mesmo para o turismo regional. Na capital baiana, há prioridades infra-estruturais gigantescas ainda não atendidas pelo Estado (municipal, estadual e federal), a exemplo da construção do Metrô de Salvador, cujas obras se arrastam, penosamente, há uma década, sem perspectiva de conclusão. Há ainda dezenas de intervenções mais prioritárias, a exemplo da urbanização de áreas periféricas e recuperação de vias de acesso à capital baiana, além de investimentos básicos na própria Ilha e na preservação da Baía.

5. João Ubaldo é irrespondível quando lembra o risco de a intervenção estatal estimular o turismo predatório na Ilha de Itaparica e no entorno da Baía de Todos-os-Santos, com megaempreendimentos agressivos ao meio ambiente e descaracterizadores da singularidade histórica da Bahia. Como enfatiza o escritor, os argumentos governamentais e empresariais apresentados até esse momento prenunciam um "atraso que transmutará Itaparica num ponto de autopista, entre resorts, campos de golfe e condomínios de veranistas, uma patética Miami de pobre. E que, em lugar de valorizar o nosso turismo, padroniza-o e esteriliza-o, matando ao mesmo tempo, por economicamente inviável, toda a riqueza de nossa cultura e nossa História".

6. Anteprojetos e desenhos da estrutura da Ponte Salvador-Itaparica, divulgados pela mídia baiana, apontam para uma agressão à paisagem da Baía de Todos-os-Santos, um patrimônio ambiental inalienável do povo baiano, talvez o último a salvo da sanha empresarial que avança sobre o meio ambiente de Salvador e do Estado. Em sua visita à Bahia, em 1949, o escritor Albert Camus anotou em seu diário de viagem: "Prefiro essa baía à do Rio, muito espetacular para o meu gosto. Esta, pelo menos, tem uma medida e uma poesia". A ponte atingirá a medida e a poesia evocada por Camus, já incorporadas à alma dos baianos e dos turistas; sobre as águas calmas e azuladas de Yemanjá vai se erguer um monumento ao empreendedorismo desalmado?

7. Desejamos uma resposta formal do governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner, ao artigo do romancista João Ubaldo Ribeiro e aos baianos. Seria um gesto de delicadeza e compromisso com os princípios democráticos fundadores do seu programa de governo.


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Adeus, Itaparica

Crônica publicada no jornal "A Tarde" de 22/01/2010

João Ubaldo Ribeiro
Da Ilha de Itaparica (BA)

Como todos os anos, vim a Itaparica, para passar meu aniversário em minha terra, na casa onde nasci. Casa de meu avô, coronel Ubaldo Osório, que fez pouco mais na vida que amar e defender a ilha e seu povo. De lá para cá, muito se tem perpetrado para destruí-los física ou culturalmente e há nova tentativa em curso. Trata-se da anunciada construção de uma ponte de Salvador para cá. Isso é qualificado, por seus idealizadores, de progresso.

Conheço esse progresso. É o progresso que acabou com o comércio local; que extinguiu os saveiros que faziam cabotagem no Recôncavo; que ao fim dos saveiros juntou o desaparecimento dos marinheiros, dos carpinas, dos fabricantes de velas e toda a economia em torno deles; que vem transformando as cidades brasileiras, inclusive e marcadamente Salvador, em agregados modernosos de condomínios e shoppings acuados pela violência criminosa que se alastra por onde quer que estejamos enfurnados, ilhas das quais só se sai de automóvel, entre avenidas áridas e desertas de gente.

Também conheço os argumentos farisaicos dos proponentes da ponte, ávidos sacerdotes de Mamon, autoungidos como empresários socialmente responsáveis. Na verdade, sabem os menos ingênuos, eles se baseiam em premissas inaceitáveis, tais como uma visão imediatista, materialista e comprometida irrestritamente não só com o capital especulativo, que já está pondo as mangas de fora no Recôncavo, como aquele que investe aqui usando os mesmos padrões aplicados em Pago-Pago ou na Jamaica. A cultura e a especificidade locais são violentadas e prostituídas e o progresso chega através do abastardamento de toda a verdadeira riqueza das populações assim atingidas.

As estatísticas são outro instrumento desses filibusteiros do progresso que em nosso meio abundam, entre concorrências públicas fajutas, superfaturamentos, jogadas imobiliárias e desvios de verbas. Mas essas estatísticas, mesmo quando fiéis aos dados coligidos, também padecem de pressupostos questionáveis. Trazem à mente o que alguém já disse sobre a estatística, definindo-a como a arte de torturar números até que eles confessem qualquer coisa. E confessarão, é claro, pois Mamon é forte e sempre esteve na crista da onda.

Mas não mostrarão que esse progresso é na verdade uma face de nosso atraso. Atraso que transmutará Itaparica num ponto de autopista, entre resorts, campos de golfe e condomínios de veranistas, uma patética Miami de pobre. E que, em lugar de valorizar o nosso turismo, padroniza-o e esteriliza-o, matando ao mesmo tempo, por economicamente inviável, toda a riqueza de nossa cultura e nossa História. Quem não é atrasado sabe disso. Para não cometer esse tipo de atentado é que, em Paris, por exemplo, não se permite a abertura de shoppings onde isso possa ferir o comércio de rua tradicional.

Tampouco, em Veneza, as gôndolas foram substituídos por modernas lanchas. Num país não submetido a esse estupro sócio-econômico e cultural, os saveiros seriam subsidiados, as antigas profissões, o artesanato e o pequeno comércio também. Exercendo a vocação turística de toda a região, teríamos razão em nos mostrar com tanto orgulho quanto um europeu se mostra a nós. Mas nosso destino parece ser acentuar infinitamente a visão que enxerga em nós um país de drinques imitando jardins, danças primitivas, pouca roupa e nativas fáceis.

Adeus, Itaparica do meu coração, adeus, raízes que restarão somente num muro despencado ou outro, no gorgeio aflito de um sabiá sobrevivente, no adro de alguma igrejinha venerável por milagre preservada, na fala, daqui a pouco perdida, de meus conterrâneos da contracosta. Sei em que conta me terão os que querem a ponte e não têm como dizer que só estão mesmo é a fim de grana, venha ela de onde vier e como vier. Conheço os polissílabos altissonantes que empregam, sei da sintaxe americanalhada em que suas exposições são redigidas e provavelmente pensadas, como convém a bons colonizados, já ouvi todos os verbos terminados em "izar" com que julgam dar autoridade a seu discurso. É bem possível que a ponte seja mesmo construída, mas, pelo menos, não traio meu velho avô.