O manifesto em apoio ao romancista João Ubaldo Ribeiro, que fez um libelo contra a construção da Ponte Salvador-Itaparica sobre a Baía de Todos-os-Santos, ganhou o apoio nesta quarta-feira dos escritores Milton Hatoum e Sonia Coutinho, do cineasta Cacá Diegues, do músico Walter Queiroz Júnior e do artista plástico Sante Scaldaferri.
Os escritores Luis Fernando Verissimo e Hélio Pólvora reforçaram ontem o abaixo-assinado “Itaparica: ainda não é adeus”, que mobiliza intelectuais, artistas, jornalistas e ativistas baianos em protesto contra o projeto bilionário do governo da Bahia, cujo edital já foi anunciado pelo secretário de Planejamento, Walter Pinheiro (PT). “Sobre as águas calmas e azuladas de Yemanjá vai se erguer um monumento ao empreendedorismo desalmado?”, indaga o manifesto.
Segundo o jornal A Tarde, as empreiteiras OAS e Odebrecht fazem estudos para a obra defendida pelo governador Jaques Wagner (PT). Se for construída, a ponte terá uma extensão de 13 km, comprimento próximo ao da Rio-Niterói. “Sei em que conta me terão os que querem a ponte e não têm como dizer que só estão mesmo é a fim de grana, venha ela de onde vier e como vier”, escreveu João Ubaldo Ribeiro, na comovente crônica “Adeus, Itaparica”, publicada em A Tarde e na revista eletrônica Terra Magazine.
Compraram a batalha itaparicana os amigos e companheiros de “Geração Mapa” (liderada por Glauber Rocha): os poetas Fernando da Rocha Peres e Fred de Souza Castro, o advogado Antonio Guerra Lima e o pintor Ângelo Roberto.
“Conheço os argumentos farisaicos dos proponentes da ponte, ávidos sacerdotes de Mamon, autoungidos como empresários socialmente responsáveis”, atacou Ubaldo.”Eles se baseiam em premissas inaceitáveis, tais como uma visão imediatista, materialista e comprometida irrestritamente não só com o capital especulativo, que já está pondo as mangas de fora no Recôncavo, como aquele que investe aqui usando os mesmos padrões aplicados em Pago-Pago ou na Jamaica.” Ele também denuncia a degradação urbana da Ilha, que registra casos bárbaros de violência. Com a ponte, acredita, sua terra natal virará um subúrbio de Salvador.
Residente no Rio de Janeiro, João Ubaldo passa o verão em Itaparica, na mesma casa em que nasceu, na Rua do Canal, número um – herdada do avô materno, o historiador Ubaldo Osório. O romancista itaparicano levou a Ilha e seus habitantes às páginas de suas principais obras, como “Viva o povo brasileiro” e o recém-lançado “O albatroz azul”. ”
É bem possível que a ponte seja mesmo construída, mas, pelo menos, não traio meu velho avô”, disse o escritor e cronista de “O Globo” e do “Estado de S. Paulo”. Com o apoio de Hatoum e Verissimo, três dos maiores autores brasileiros se engajam na defesa da Baía de Todos-os-Santos e do paraíso ecológico baiano.
O manifesto pode ser lido e assinado neste link:http://www.gopetition.com/online/33669.html
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