sábado, 27 de fevereiro de 2010

João Ubaldo: "Contra o interesse econômico, um artigo resolve muito pouco"

(Foto: Marco Aurélio Martins)

Katherine Funke

(Revista Muito, jornal A Tarde, 28/02/2010)

“Quando eu morava em Itaparica, me dava pena ver aquela geração de jovens fortes, dispostos, boa gente, bem formados, com duas opções de futuro: ou migrar de lá, e nunca mais aparecer, ou cair na cachaça, no desemprego, na saúde precária já aos quarenta anos. Ficam uns cacos. As moças, tão bonitas, cada princesa que você vê assim aos doze, treze, quatorze anos, você chega uns cinco anos mais tarde já encontra aquela velhota de quarenta e cinco. Já sem dente, por causa da gravidez precoce, aquela tristeza que a miséria produz. Eu então chamei o pessoal e falei: ´aqui tem uma certa infra-estrutura, vamos bolar um calendário para a ilha? Por exemplo, um festival de pesca de peixe miúdo; em setembro, que é época de vento, empinar arraia, fazer um festival disso… Um festival de música qualquer, uma onda.. Inventar coisas, bolar…´. Rapaz, foi um negócio! Criaram comissão, já queriam botar jeton pra mim (algum dinheiro), eu disse, ´eu não quero jeton nenhum, eu não sou de comissão, ainda mais vindo do imposto pago pelo povo, que é miserável…´ (risos). Foi tal confusão e apresentação de planos. As pessoas entravam, cada qual com seu ´peixe´ pra vender. As pessoas falavam e não se ouviam, esperavam a própria vez – mesmo que fosse pra repetir o que foi dito na fala anterior (risos). Acabou que parte da Câmara Municipal de lá se reuniu e, se pudesse revogar um registro civil, eles revogavam o meu. Começaram a se referir a um bando de ´forasteiros´. Aí mandei todo mundo pra puta que pariu: ´vocês vão ficar na merda, mesmo, se quiserem´. Porque lá dizem que eu ´nunca fiz nada pela ilha´. Quando eu fui escrever para O Globo, pela primeira vez, já há uns vinte anos, escrevi logo mencionando Itaparica. Aí vieram me lembrar que eu estava escrevendo para um jornal carioca, que não botasse ´esse negócio de Itaparica, ninguém nunca ouviu falar, fica melhor direcionar sua crônica para o público carioca e tal…´. Deram a mim uma orientação amigável à qual eu não dei a menor importância. E Itaparica hoje, ao ser mencionada, não precisa que ninguém mais explique que é uma ilha, antigamente tinha que botar: ´Itaparica (ilha localizada na Baía de Todos-os-Santos)´. Hoje não precisa. No entanto, dizem que eu nunca fiz ´nada pela Ilha´. É igual dizer que Dorival Caymmi, porque nunca fundou um asilo com o próprio nome, nunca fez nada pela Bahia” (Notícias da Bahia, Feira de Santana, maio de 1999)

O depoimento acima é do escritor João Ubaldo Ribeiro, 69, que mora no Rio desde 1992, no apartamento que já foi de Caetano Veloso. A reportagem da Muito #100, que está nas bancas neste domingo (28/01), conta que João Ubaldo gosta de curtir o verão no lugar onde nasceu: a casa do avô na ilha de Itaparica, onde morou por quase oito anos – já escritor reconhecido, na década de 80.

Lá, reencontra velhos conhecidos, descansa um pouco e repete um certo ritual diário: manhãs no mercado do peixe e almoços no Largo da Quitanda. Fica, em tese, livre do assédio da grande imprensa.

Este ano, passou um mês em Itaparica, entre as primeiras semanas de janeiro e de fevereiro. Não foram férias totalmente calmas, já que Ubaldo não se aquietou: levantou polêmica ao se posicionar contra a ponte entre Salvador e Itaparica. A obra foi anunciada pelo governo do Estado sob o título de “Sistema Viário Oeste”, no começo de janeiro.

Se a postura de João Ubaldo ganhou o apoio de gente famosa e influente no meio artístico, como Chico Buarque e Cacá Diegues (veja manifesto online), ao mesmo tempo lhe rendeu críticas locais, nos campo das forças políticas e econômicas da Bahia.

O irmão mais novo, Manuel Ribeiro Filho, é diretor da construtora OAS e já tem estudos e projetos em desenvolvimento para a ponte. O governador Jacques Wagner lançou em janeiro um convite público para que pessoas físicas e jurídicas manifestem interesse em realizar a obra. A OAS já está no páreo. Para o irmão caçula do escritor, é natural que ambos pensem diferente, apesar de terem tido a mesma formação.

“Nós tivemos uma discussão bastante cordial via email”, conta Ribeiro Filho. “Minha relação com ele é bastante cordial. Cada qual no seu ponto de vista. Eu sou engenheiro, sou executivo, ele é intelectual. Ele é bem mais velho do que eu, então eu convivi pouco, na casa paterna, com ele. Então, cada qual tem sua vida. Claro, temos relação totalmente cordial, mas cada um pensa de uma forma. E eu acho que é muito natural que as pessoas pensem diferente”.

Na sede da OAS, na Graça, dois Mercedes-Benz de luxo repousam na garagem externa, aos cuidados de seguranças particulares, enquanto em uma sala de reuniões o diretor da construtora para a Bahia, Sergipe e Alagoas pega o celular pessoal e mostra para a reportagem de A TARDE que enviou um email ao irmão escritor, em cumprimento ao aniversário.

“Mandei no dia 23 de janeiro, em pleno quebra-pau: ‘Meu irmão, parabéns. Desejo-lhe muita saúde, sucesso, paz e alegria. Espero que tenha havido alvorada com foguetes de flecha. Boa festa. Abraço do irmão caçula e família.’ Toda a pessoa importante quando fazia aniversário, tinha alvorada, com foguetes de flecha”, contou.

A resposta de Ubaldo foi: “Muito obrigado, meu irmão. A festa foi boa. Muitos beijos do irmão mais velho JU”. Dez anos mais novo, Manuel guarda o telefone e conclui: “Isso não impede que ele fale cobras e lagartos, mas é do próprio jogo democrático”.

O vão central da ponte proposta pela OAS teria 500 metros de comprimento por 80 de altura. “Essa é nossa ideia. Fizemos nosso estudo sem autorização nenhuma do Estado”, diz o engenheiro. “Mas eu não iria oferecer o Estado para estudar sem ter certeza de que haveria possibilidade de viabilidade”.

No dia 26 de janeiro de 2009, ele entregou, assinando como diretor da OAS, uma petição à Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado, pedindo autorização para fazer os estudos. O pedido foi indeferido. Um ano depois, o Estado abriu o “convite de manifestação de interesse”.

O chamado “Sistema Viário Oeste” inclui a duplicação da ponte do Funil e outros trechos rodoviários do Recôncavo, além de obras federais de extensão do km 0 da BR 242 para o porto de Salvador. Depois de 14 de março, prazo final para empresas interessadas responderem ao convite de manifestação de interesse, o governador vai definir, por decreto, uma comissão que vai escolher a melhor proposta de estudos.

Mas o secretário de planejamento, Walter Pinheiro, adiantou para A TARDE, em janeiro, que não há meios da fase licitatória da obra iniciar em 2010, por ser este um ano eleitoral.
Bem no auge da discussão, trocamos umas palavrinhas com o filho mais famoso de Itaparica. A rápida conversa, transcrita abaixo, elucida um pouco da relação do escritor com a ilha. A entrevista foi concedida às 17h30 do dia 23 de janeiro, na sombra do quintal da casa que era do avô. Coisa de uns 45 minutos antes, 69 anos atrás, ele estaria nascendo, de parto difícil, naquela mesma casa.

Muito – Há personagens nas suas crônicas e romances que são pessoas de verdade, daqui de Itaparica, como Espanha, Grande, Osmar, Zecamunista e Jacob Branco… Como é que isso funciona?
João Ubaldo – Às vezes conto o que aconteceu, às vezes mudo. Mas só brinco porque são meus amigos. Com quem eu não gosto, não brinco – a não ser que seja para denunciar. No fundo, é a brincadeira de botar o nome deles no jornal.

Muito – Mas alguns deles não conhecem sua obra. Isso te preocupa?
João Ubaldo – Não. Eu sei que a maioria não lê… (pausa). Mas, Zeca (Zecamunista), não. Zeca é um homem de grande valor, não só profissionalmente, como um homem de cultura.

Muito – Quem é Gugu Galo Ruço e Beto Atlântico, citados em crônicas recentes para o jornal A TARDE?
João Ubaldo – Gugu Galo Ruço existe, estava aí… É um amigo meu, acho que eu trabalha com imóveis, mas não mora aqui. Vem muito aqui. Beto Atlântico é dono do Mercadinho Atlântico, aqui de Itaparica.

Muito – No ano passado, você disse que ia retomar uns personagens de Miséria e Grandeza do Amor de Benedita e de Já Podeis da Pátria Filhos para voltar a falar mais do universo humano da ilha. Como está esse projeto?
João Ubaldo – É, eu disse. Mas não sei se vou fazer, não. Às vezes, eu penso nisso, mas não tenho certeza. Às vezes eu falo que vou escrever, mas isso não acontece nunca. Quero escrever mais histórias com eles.

Muito – Algum personagem de O Albatroz Azul é inspirado em uma pessoa real aqui de Itaparica?
João Ubaldo – Não, não. Eu nem uso essa palavra, “inspirado”. Mas, com certeza, deve parecer com algumas pessoas aqui de Itaparica. Porque se o personagem é verossímil, ele parece com alguém. Se é pão-duro, vai parecer com algum pão-duro que você conhece…

Muito – Ouvi hoje de uma de uma senhora que já tinha tomado uma cachacinha: “Hoje é aniversario de Itaparica!”
João Ubaldo – Hehehehehe… (rindo…)

Muito – Aí, alguém corrigiu: “Não, é aniversário de João Ubaldo!” E ela: “Ah, é? Mas é a mesma coisa!”
João Ubaldo – É uma maravilha isso! Eu fico contente de saber disso!

Muito – E é verdade. Mas, e as orelhas do prefeito de Itaparica? Andam meio queimadas, por aqui?
João Ubaldo – O que aconteceu com o Vicente foi que quando eu morava aqui e votava aqui, votei contra Vicente, isso é verdade. Mas já me oferecei para ajudar, não sei se ele se lembra; ajudar, fazer alguma coisa para movimentar a vida aqui. A única coisa que foi aproveitada, e mesmo assim por um amigo meu, foi o concurso de pesca de carapicun; mas eu não bolei para dar prêmio João Ubaldo! Bolei um calendário turístico, me ofereci para ajudar, fazer um festival aqui, quando tinha o Grande Hotel. Mas ninguém queria. Vicente acha que eu não gosto dele. Vicente é afilhado de meu avô, conheço ele desde pequeno.

Muito – Ontem (22/01) saiu seu artigo no jornal A TARDE, um manifesto contra a ponte para Itaparica. Que repercussões têm tido sua opinião?
João Ubaldo – Contra o interesse econômico, um artigo resolve muito pouco… (olha para a repórter em silêncio, fumando um cigarro).

Muito – No caso do Forte São Lourenço, quando fizeram e a zona de desmagnetização de navios, você também se manifestou contra. Adiantou alguma coisa?
João Ubaldo – Não adiantou nada. Quem veio aqui foi o almirante Blower, o então comandante do 2o. Distrito Naval. Ele veio em pessoa, com o oficialato dele. Me convidaram para almoçar. Foi uma grande deferência.

E um telefonema interrompeu a entrevista. “Vou precisar me ausentar um bocadinho”, pediu licença Ubaldo, e partiu para o interior da edificação. Logo depois, colocou uma camisa, aberta até o terceiro botão; sob os protestos da mulher, Berenice, voltou para dentro e colocou outra. Esperou Berenice fechar a casa. Então, foi com ela, a filha Emília e um casal de amigos para a Biblioteca Juracy Magalhães Jr., onde aconteceu a já tradicional homenagem pelo seu aniversário.

“Suponho que não tenho nenhuma razão em querer que Aracaju e Salvador ficassem como eram, mas comigo é assim, para mim nem uma, nem outra, são mais as minhas cidades. Só me sinto à vontade mesmo em Itaparica. Se fizerem uma ponte para Salvador, organizo uma brigada dinamitadora e vou à luta” (João Ubaldo para o Jornal da Bahia, em 1985)

Deixem Ubaldo em paz

Janio Ferreira Soares

(Bahia em Pauta, 27/02/2010)

Apesar de continuar achando que tudo não passa de mais um belo lance eleitoral criado pelos marqueteiros do governo Wagner – certamente apoiado por algum desafeto de João Ubaldo, talvez com raiva por ter levado ao pé da letra o seu romance O Sorriso do Lagarto, e após meses em busca de uma lagartixa feliz só ter encontrado calangos balançando cabeças como se afirmando sua tendência à estupidez -, peço licença (com ar de vênia, em homenagem ao professor Manoel Ribeiro), para meter o bedelho nesse furdunço político-sentimental-arquitetônico que começou depois do anúncio da construção da ponte Salvador-Itaparica, embora eu ache que ela continuará hibernando na prancheta dos sonhos.

Não estou aqui defendendo ou condenando nada, até porque a única ponte que interessa por essas bandas (alô, Aninha Franco!) é alguma que leve a miséria e o analfabetismo para bem longe do sertão e na volta desemboque num desses lugares de sonho que aparecem na propaganda do governo da Bahia – tipo Itacaré. Só acho que velhos baianos como João Ubaldo, Cid Teixeira, Waldir Pires, J. C. Teixeira Gomes, Caetano, Gil e tantos outros, merecem, independentemente de ideologias, um mínimo de consideração. Quando não pelas opiniões, pelo menos pelo jeito bacana de levar a Bahia por aí.

Não conheço João Ubaldo pessoalmente apesar de ter tido um belo álibi para fazê-lo quando, meses atrás, eu estava no Rio e ao sair da livraria Argumento com seu último livro, O Albatroz Azul, o avistei com amigos no boteco Tio Sam. Confesso que se não fosse minha timidez, teria puxado um papo de autógrafo e me apresentado como o cara que, tempos atrás, trocou alguns e-mails com ele a respeito de um artigo publicado no jornal A Tarde, onde eu brincava sobre o que teria acontecido se, em vez de ter ido para Salvador e conhecido Glauber, ele continuasse estudando em Aracaju. Nesse caso, essa ponte seria unanimidade, este artigo não existiria e os lagartos continuariam tristinhos, coitados, apenas balançando suas cabeças e rabos para os imbecis de plantão.

Janio Ferreira Soares, cronista, é secretário de Cultura e Turismo de Paulo Afonso (BA), na região do Vale do São Francisco

O passado não acabou

Helington Rangel

(A Tarde, 24/02/2010)

De forma dissimulada, mas insultuosa, o deputado Walter Pinheiro, atual secretário do Planejamento do Estado, tentou desclassificar o cidadão e consagrado escritor João Ubaldo Ribeiro por manifestar-se contra o projeto megalômano da ponte entre Salvador e Itaparica, torrão natal do autor da imortal obra literária Viva o Povo Brasileiro.

A cidadania implantou-se a partir da Guerra de Secessão nos Estados Unidos e Revolução Francesa, dois eventos que marcaram o princípio de legitimidade da sociedade civil, convertendo-se em conceito histórico e não em definição vulgar ou carente de imaginação. Os avanços da cidadania dependem das reivindicações e ação dos indivíduos, como expressão do exercício democrático.

Após mais de meio século de industrialização na Bahia, a omissão do poder público expõe a dimensão da pobreza aqui, com renda per capita abaixo de Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Norte, inclusive menor esperança de vida. Multidões ainda vivem em favelas, sem água potável nas residências, nem beneficiadas com a coleta de lixo.

Em nome da religião do progresso, a desenfreada expansão vertical de Salvador produziu diminuição drástica no estoque de terras e a última fronteira se delimita com áreas de proteção ambiental – daí a afobação na construção da ponte para os sacerdotes do capital imobiliário difundirem seus templos.

A ironia paroquial do Secretário de Planejamento não foi suficientemente hábil para encobrir a decadência na educação e saúde pública do Estado, porém eficiente para ocultar interesses de grupos empresariais na transformação de terrenos especulativos em lotes, na criação de intransponíveis bairros luxuosos na ilha, apesar dos custos humanos.

É utópico sonhar com cidadania plena em uma comunidade injusta – e com a ponte dos bilhões, adaptada à ideologia do desenvolvimento do governo, a Bahia nada terá a comemorar, pois o presente ainda é o passado em todos seus contornos e atitudes. Talvez, no futuro, os cidadãos possam construir um Estado, onde as necessidades da sociedade tenham prioridade e as divergências de opiniões não sejam alvo do deboche de governantes.

Helington Rangel é professor universitário, economista e jornalista. E-mail: helingtonr@msn.com

Uma ponte sobre o Recôncavo

Paulo Ormindo de Azevedo

(A Tarde, 23/02/2010)

Um réquiem de João Ubaldo para Itaparica, ameaçada de ser atropelada pela BR-242, provocou uma resposta grotesca e vazia do governo, que macula sua imagem. A reação foi xenofóbica e preconceituosa por ele residir no Rio, e não ser um técnico, senão um intelectual, supostamente amante do atraso. Assinei o manifesto em solidariedade ao escritor pela tentativa de desqualificá-lo, em defesa da liberdade de opinião e por outras razões que vão mais além dos seus temores.

A ponte, a meu ver, não fará de Itaparica uma extensão de Salvador, tanto quanto a Rio-Niterói não expandiu Niterói, nem desafogou o Rio, que cresce na direção oposta.

Itaparica, como Niterói, será apenas um atalho para a BR-101 e BR-242. Continuará como um conjunto de condomínios fechados usados um mês por ano, como o litoral de Lauro de Freitas e Camaçari. Mesmo porque a ponte será uma nova Paralela, engarrafada 24 horas por dia, apesar de suas oito pistas, pois o gargalo está na entrada de Salvador. Não será também uma saída para a soja do oeste, pois o nosso porto, mesmo ampliado, não tem condição de operar granéis e tem uma sobrevida de 25 anos. Ela será, sim, uma ponte sobre o Recôncavo e ilhas, cujas estradas serão marginalizadas, o sistema hidroviário e patrimônio abandonados.

Não digo adeus à ilha, que continuará sendo apenas uma passagem, lamento por Salvador, que poderá receber cerca de 60 mil carros e caminhões diários entrando por São Joaquim e cruzando seu centro antigo em direção ao litoral norte, onde estão as praias mais badaladas e os principais centros de produção da região metropolitana de Salvador (RMS), o Copec e a Ford. Imaginem o engarrafamento do Américo Simas, da San Martin, da Contorno e do Iguatemi nos dois sentidos. Pela conformação do cabo de S. Antônio, não podemos ter um anel rodoviário, senão um fundo de saco (cul de sac). Para ele, o já congestionado Iguatemi, convergem duas estradas, a BR-324 e a Estrada do Coco/ Linha Verde. Agora teremos uma terceira, a BR-242. Enquanto em todo o mundo se evita a entrada de carros no centro, nós vamos despejar ali uma estrada de oito pistas.
A ponte terá também um impacto enorme sobre a segunda maior baía do mundo. A construção de uma ponte como essa demanda a construção de modelos reduzidos para simulações de marés, ventos e descargas de rios e assim evitar assoriamentos e correntezas indesejáveis. Pequenas obras nos portos de Fortaleza e Recife acabaram com as praias de Iracema e de Olinda. O Porto de Suape atraiu tubarões para a Praia de Boa Viagem.

Quanto perdeu Recife e perderá Salvador com um monstrengo que já arranca a 35 m de altura, prejudicando a paisagem, a navegação, os esportes náuticos e o turismo? É inconcebível que se licite um projeto dessa complexidade sem estudos de viabilidade e impactos. Nem eles podem ser feitos em 120 dias. Ao que tudo indica, o Convite à Manifestação de Interesse é apenas a legitimação do projeto do “Consórcio” já apresentado pelo secretário de Infraestrutura, cujo orçamento inicial é de R$ 2,5 bilhões, mas que poderá ser triplicado com os custos financeiros e operacionais. É um engano imaginar que o setor privado irá investir na ponte e que ela será paga com o pedágio. Com este projeto e o remake de R$ 1,61 bilhão da Fonte Nova (A TARDE, 30/01) a capacidade de endividamento do Estado fica comprometida por algumas décadas e nós contribuintes pagando o pato.

Caro colega Bira Gordo, li com a atenção seu artigo “Radicalismo e desenvolvimento” do último dia 11/02, por ser V. o mais ilustrado porta-voz da atual administração. Esta falsa oposição entre desenvolvimento e preservação ambiental, assim como a pecha de radicalismo atribuída ao contraditório são coisas dos anos 70. Confesso que não consegui enquadrar Ubaldo nem eu mesmo em nenhuma de suas categorias – vermelho/comuna, verde de raiva, infantil e senil/saudosista – nem numa fantasmagórica oposição.

Queremos apenas um desenvolvimento sustentável, que não seja só pontes, viadutos, asfalto, mais carros e fumaça. Há alternativas melhores e mais baratas.

Paulo Ormindo de Azevedo é arquiteto, professor titular da Ufba. E-mail: ormindo1@terra.com.br

Deus e o dinheiro na terra de Mamon

Vitor Hugo Soares, no Blog do Noblat (20/02/2010)


À medida que se distancia o barulho dos tambores e das guitarras elétricas nas ruas e avenidas dos muitos circuitos do carnaval baiano, fica mais fácil observar e escutar o que se passa em volta nestes dias de retirada da fantasia e dos santos cobertos de pano roxo, na Bahia e no País.
Desde já, é possível dizer: muitos fatos e ruídos merecem atenção e reflexão, além do drama político que abala o Distrito Federal de Arruda, Paulo Octávio e a turma do chamado "Mensalão do DEM".

A mudez dos sinos nos campanários da mística Salvador, imposto pelos ritos da Quaresma, facilitam também verificar: partem dos templos religiosos (católicos ou não) os sinais mais contundentes.

O principal deles é bem nítido já nos preparativos do lançamento neste domingo, 21, da Campanha da Fraternidade, cujo tema este ano é "Dinheiro e Vida".
Isso ficou visível nos cuidados e nas oscilações na entrevista coletiva do mineiro arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil, Dom Geraldo Magela, para falar da parte prática da CF, de caráter ecumênico.

O simples comunicado foi suficiente para levantar sinais de fumaça e de polêmica em muitos setores. Na política, nos governos, nas empresas.
Dúvidas e suspeitas se levantam, aqui e ali, a começar pelo real significado de algumas palavras e indicações do Primaz do Brasil, ex-presidente da CNBB, em sua conversa com a imprensa na Quarta-feira de Cinzas.
Até a construção da controvertida ponte Salvador-Itaparica, empreendimento bilionário de projeto incerto e não debatido, veio à baila, e mereceu o apoio explícito do cardeal.
Pelo tema em si, não é difícil prever o fuá que está a caminho, a partir deste domingo. No material da campanha, que será distribuído e debatido pelos fiéis nas paróquias de todas as dioceses do País, há motivos de sobra tanto para concordâncias, quanto para desavenças.
Mais, provavelmente, para desavenças.
"Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro". Eis um desses motivos, escrito como lema em destaque no cartaz de promoção da CF-2010. O próprio cartaz não poderia ser mais emblemático e provocativo, em se tratando de campanha de cunho religioso e social.
Nele, velas acesas sobre uma mesa aparecem cercadas de moedas.
Mais direto, impossível, principalmente porque a CF-2010 passou pelo crivo da Santa Sé desde setembro do ano passado.
É sabido que o Vaticano não costuma ser tão direto em suas mensagens e palavras de ordem na maioria das vezes. A não ser em questões como o aborto ou a obrigatoriedade do celibato.
Neste último caso, como se sabe, com inegáveis motivações do dinheiro desde as origens do impedimento do casamento dos padres católicos.
No lançamento da CF deste ano, na Bahia, quem lucrou de saída foi Wagner e seu governo. Como assinalou o jornal A Tarde, o governo baiano ganhou um aliado de peso na sua empreitada pela construção da ponte entre Salvador e Itaparica.
"Eu acho que vai ser bom. Temos muitas pessoas que usam a passagem pela ilha para ir mais para o sul do nosso Estado. Se tivermos uma ponte, o tempo e os custos da viagem vão ser abreviados", argumentou o arcebispo primaz do Brasil em favor da ponte.
A obra, como destaca o jornal baiano, tem gerado um debate acirrado entre políticos, empresários e sociedade civil.
A polêmica se aprofundou após o escritor João Ubaldo Ribeiro, natural de Itaparica, produzir um manifesto desferindo críticas ao projeto. O protesto ganhou projeção nacional e recebeu o apoio de artistas e intelectuais que também se posicionaram contra a ponte.
No mesmo dia da entrevista de Dom Geraldo, a discussão chegou (à noite), ao plenário da Assembleia Legislativa da Bahia, a bordo da mensagem do governo, levada pessoalmente por Jaques Wagner, que abriu generoso espaço em seu discurso na abertura do ano legislativo no Estado, para fazer veemente defesa da ponte de 13 km sobre a Baía de Todos os Santos.
Ah, é preciso ressaltar, a bem da verdade, que o Primaz do Brasil colocou o tema do dinheiro e da corrupção no País, no centro da sua entrevista de lançamento da CF.
Deu destaque especial ao escândalo mais recente e ainda em andamento, que culminou na prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e no processo para o afastamento do vice, Paulo Octávio.
"É o bendito dinheiro de quem o põe no bolso, põe na barriga, em não sei mais onde. São interesses partidários e de grupos que estão em jogo", disse o arcebispo.
Dom Geraldo destacou a prisão do governador, mas ainda assim o o arcebispo mostrou-se descrente frente à impunidade em crimes de corrupção:
"Vemos este mensalão e nos parece que não aconteceu nada. Eles sempre têm dinheiro para ter um habeas corpus, para sair da cadeia".
Mesmo em relação à construção da ponte multibilionária, que ele abençoa, o cardeal pede vigilância. Admitiu que o empreendimento pode ser alvo de desvios e superfaturamento.
"Essa obra vai ser muito valorizada, até acima mesmo do seu valor objetivo. Há o perigo de que certas empresas possam ser beneficiadas. Um benefício que vem em troca de corrupção", alertou.
A Campanha da Fraternidade deste ano promete muito mais, no Brasil das metrópoles, mas sem tirar as vistas também da dinheirama que corre no País dos grotões.
A conferir.

Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Antonio Risério: Entrando no assunto

Antonio Risério

A Tarde, 20/02/2010, Opinião

Este é o primeiro de uma série de artigos que pretendo publicar, em torno de um mesmo assunto, tendo em vista o projeto de construção da ponte Salvador-Itaparica.
Sei que vou frustrar ou decepcionar alguns amigos (meu querido e admirado João Ubaldo, em primeiro lugar) e agradar outros.

Mas é que, apesar de ter tentado me persuadir do contrário, não consegui me convencer de que a ponte é condenável. E não consigo não dizer o que penso. De qualquer sorte, esperei a poeira baixar, a folia carnavalesca chegar ao fim, para, como se dizia antigamente, tecer considerações em torno do tema.

Antes de entrar na matéria, porém, quero logo dizer o seguinte. Acho maravilhoso que Ubaldo tenha aberto o debate. E concordo com algumas coisas que ele diz. Assim como considero fundamentais pontos do manifesto “Itaparica: ainda não é adeus”. Deixarei isso claro no momento em que chegar lá. Já as reações de secretários de Jaques Wagner, à postura de Ubaldo, me pareceram oscilar entre a tolice, a ignorância e a farsa (o governador, salvo raríssimas exceções, como a de um Fernando Schmidt, anda muito mal acompanhado). E dizer que Ubaldo não mora na Bahia não é coisa que se leve a sério. Passei boa parte de minha vida, até aqui, fora da Bahia. Estou, atualmente, em Brasília. E não sou – em princípio – contra a ponte.

A maior bobagem partiu de um secretário de Estado que, ao tentar sugerir que a ponte vai ser boa para Itaparica, deu o exemplo de Lauro de Freitas, que classificou como “cidade planejada”. Lauro de Freitas, a antiga Santo Amaro do Ipitanga, é um horror. E justamente por absoluta falta de planejamento. Pela ignorância dos mais elementares princípios do urbanismo. Bem, se for para Itaparica virar uma Lauro de Freitas (como já está acontecendo – e também por falta de planejamento) – aí, sim – fico definitivamente contra o projeto da ponte. Mas, como não acredito que o secretário expresse o ponto de vista do governador (toda administração estadual, hoje, no Brasil, é um saco de gatos), vamos adiante – e devagar – com o andor.

A conversa sobre a ponte Salvador-Itaparica me leva de volta a outro assunto que provocou polêmicas e paixões. A transposição do Rio de São Francisco. Por que uma coisa puxou a outra? Porque, no aceso daquelas discussões, em meio ao fogo cruzado de conceitos e números, costumava dizer a meus interlocutores mais próximos: acho que é preciso discutir com cuidado. A transposição, mais cedo ou mais tarde, vai acontecer.Então, em vez de espernear contra, vamos dizer que espécie de obra nós precisamos e queremos ter.

Minha sensação, diante do projeto da ponte, é a mesma. Mais cedo ou mais tarde, ela virá. Basta tentar imaginar o que será Salvador no ano 2050. Alguém acredita que a ilha se manterá distante dela? Que Itaparica não será incorporada à futura e imensa cidade? Enfim, penso que a ponte é inevitável. Que ela virá. E então acho que é melhor que a gente diga que ponte nós queremos. Que ilha queremos.

Lembre-se o caso do São Francisco. Num extremo, plantaram-se técnicos e cientistas, esgrimindo números. Em outro, ficaram os ambientalistas mais românticos – que, de certa forma, parecem querer atravancar o caminho da história, ou voltar a viver num mundo que há muito não existe – e o bispo da greve de fome. Bispo que agora aparece como que replicado no bispo que ataca o projeto da hidrelétrica de Belo Monte. Não posso concordar com essa turma. Eles querem que, enquanto a China e a Índia decolam, o Brasil estacione. Desça do bonde dos emergentes. E permaneça, biblicamente, olhando os lírios do campo.

Naquele caso, não dava para ficar de um lado, nem de outro. Entre dados estatísticos, informações técnicas, pregações catastróficas, indignações fáceis e humanitarismos paroquiais, era preciso andar com cuidado. Não quero dizer com isso que o texto de Ubaldo e o manifesto que o apoiou sejam devaneios românticos. Não. São consistentes. Mas não fecho totalmente com eles e vou trazer à luz o que penso. Como disse, acho que a ponte é inevitável. Mas acho, também, que não devemos aceitar uma ponte medíocre, quando, no mundo inteiro, elas recuperaram sua condição de objeto estético. E devemos pensar na dimensão ambiental. Com seriedade.

Jaques Wagner defende megaponte Salvador-Itaparica

Claudio Leal

Terra Magazine, 19/02/2010

Na abertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), defendeu o projeto da megaponte Salvador-Itaparica, que motivou críticas do romancista João Ubaldo Ribeiro e um manifesto em defesa da Ilha de Itaparica e da Baía de Todos-os-Santos, assinado por alguns dos principais escritores brasileiros.


Durante o discurso anual, Wagner elencou mais uma justificativa para a construção da obra bilionária: reduzir a densidade demográfica de Salvador, com a ocupação dos espaços da maior ilha marítima brasileira e do Baixo Sul baiano.

João Ubaldo denunciou o risco de favelização do paraíso ecológico, com a urbanização predatória e o privilégio de condomínios fechados. Wagner se referiu à polêmica, mas evitou citar os opositores da ponte de 13 km, que motiva estudos das construtoras OAS e Odebrecht.

O petista afirma que o sistema marítimo do ferryboat será insuficiente para a expansão do fluxo de veículos. E não cogita desistir da ideia. Trechos do discurso do governador sobre o projeto:

"Debate anima"
"Um novo vetor de crescimento surgirá da interligação da Via Expressa com a futura ponte Salvador-Itaparica, que expandirá para o vetor Oeste, ligando Salvador à 242, à 001 e ao Baixo Sul. E aqui me permitam um comentário. Creio que qualquer obra da magnitude de uma ferrovia, da ponte Salvador-Itaparica, ela sempre aquecerá o debate. Eu creio que não há melhor forma de aprimorar os projetos do que num debate. Nessa Casa, fora dessa Casa, em todos os ambientes daqueles que pensam a nossa terra, de urbanistas, de engenheiros, de projetistas, de ambientalistas, e portanto creio que o debate que está em curso sobre a questão da ponte a mim pessoalmente me anima."

"Densidade demográfica"
"Creio que o prefeito da capital sabe disso, que nós temos a maior densidade demográfica entre todas as capitais do País. Entamos pertos de 9.000, 9.500 habitantes por km quadrado. Todos reconhecemos que Salvador não tem mais território pro seu crescimento. Todos queremos a integração da nossa capital com a beleza que é a baía de Camamu e o Baixo Sul. O ferryboat já experimentou 30% de incremento só com a inauguração da BA-001. Quando agora fizermos a interligação de Canavieiras a Belmonte, seguramente esse meio de transporte ficará cada vez insuficiente para o fluxo que nós teremos descendo seja para negócio, seja para o turismo, descendo pelo Baixo Sul da nossa terra. São muitos os empreendimentos de hotelaria que se preparam naquela região."

"Ferry não é transporte do futuro"
"Portanto, eu creio que o pensar a ponte não é um pensar de alguém que quer uma obra que leve seu nome. Até porque uma obra como essa demandará quatro, cinco anos, entre projeto e construção. Mas eu não tenho dúvida nenhuma que da forma como está sendo preparado, com o debate que será feito com as populações de Vera Cruz, de Itaparica, de Salvador, no Baixo Sul, com essa Casa seguramente, com as Câmaras de Vereadores, com os debates nas audiências públicas, nós poderemos aprimorar e garantir que esse projeto venha ao encontro do sonho de nossa gente, que quer desfrutar uma ilha preservada, mas quer ter um acesso mais fácil para essa ilha, para esse presente que Deus nos deu. Que nós queremos interligar Salvador com o Sul e com o Baixo Sul. Portanto, isso só pode ser feito não através do sistema de ferryboat, que por mais que nós consigamos melhorá-lo, seguramente ele não é um transporte do futuro, ele não é uma garantia.""Ainda mais, pensando como nós pensamos essa ponte, interligando ela, que passará a ser o quilômetro zero da BR-242, ou seja, trazendo todo o fluxo de Brasília e do Oeste baiano para chegar diretamente ao Porto de Salvador, numa via segregada, eu não tenho dúvida que através de um processo de concessão, com a participação do Estado, nós viabilizaremos essa ponte para a tranquilidade da gestão municipal de Salvador e para a garantia de um desenvolvimento sustentável da Ilha, do Baixo Sul e do Sul do Estado."

ADEUS, ITAPARICA
Em 22 de janeiro, João Ubaldo Ribeiro denunciou, no artigo "Adeus, Itaparica", o objetivo de grupos empresarias de transformar Itaparica em uma "patética Miami de pobre". A construtora OAS admitiu que pretende construir "condomínios fechados na parte central da ilha".

- As estatísticas são outro instrumento desses filibusteiros do progresso que em nosso meio abundam, entre concorrências públicas fajutas, superfaturamentos, jogadas imobiliárias e desvios de verbas. Mas essas estatísticas, mesmo quando fiéis aos dados coligidos, também padecem de pressupostos questionáveis. Trazem à mente o que alguém já disse sobre a estatística, definindo-a como a arte de torturar números até que eles confessem qualquer coisa - atacou Ubaldo.


O artigo motivou um movimento nacional em apoio ao romancista itaparicano e em defesa da Ilha de Itaparica e da Baía de Todos-os-Santos. Já assinaram o manifesto "Itaparica: ainda não é adeus": Luis Fernando Verissimo, Chico Buarque, Cacá Diegues, Milton Hatoum, Ricardo Cravo Albin, Emanoel Araújo, Monique Gardenberg, Sonia Coutinho, Jomard Muniz de Britto, Hélio Pólvora, Edson Nery da Fonseca, Sebastião Nery, Walter Queiroz Júnior, Jerusa Pires Ferreira, Hélio Contreiras, Aninha Franco, Fernando da Rocha Peres, Ruy Espinheira Filho, entre outros. O texto defende um debate amplo sobre o projeto, questiona a prioridade da obra e afirma que João Ubaldo não é uma voz isolada.

Em entrevista a Terra Magazine, o secretário de Infraestrutura da Bahia, João Leão (PP), definiu a divisão da arena:

- Maravilha! Só que os escritores estão de um lado e o povo está de outro... Rapaz, se a população não tem concepção de urbanismo, só quem tem são os escritores? ( leia aqui).

A dramaturga Aninha Franco rebateu, em artigo na revista Muito (jornal A Tarde), a postura do governo diante dos protestos de artistas e intelectuais:

- Conselho não se dá nem a quem pede, governador, mas no futuro, dentro da história que o senhor está tecendo, essa que vem sendo fotografada, filmada, escrita, a ponte que falta é a que liga o povo à educação, para que ele nunca mais precise de intermediários do seu querer. E pra fazer essa ponte, governador, é mais seguro ser parceiro de artistas - escreveu Aninha.

Alvo de especulação imobiliária, Itaparica sofre com o crescimento da violência e problemas de infraestrutura e transporte. Uma tragédia a mais promete agravar a degradação do paraíso que atrai empreiteiras. Desde a quarta-feira, 17, mais de 600 hectares de Mata Atlântica foram consumidos por um incêndio. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros suspeitam de ação criminosa.