quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Aninha Franco: A Ponte, os artistas e os políticos

Aninha Franco

O governador Jaques Wagner se indispõe com artistas desde o início de seu governo, ou pessoalmente ou através do secretário de Cultura que promoveu tremor haitiano na produção artística local sob seu silêncio. Calado. Consentido. Agora é a vez da ponte Salvador-Itaparica. Meu irmão, que eu amo, proprietário na ilha, que sofre horrores para chegar e sair de lá, acha que a ponte resolverá o funcionamento caótico do ferryboat. João Ubaldo nasceu na Ilha e criou Viva o povo brasileiro, livro-ponte da obra de Jorge Amado para a Bahia atual, e por suas razões, contrárias à ponte, terá, sempre, o meu apoio independente do meu amor. A contrapartida do governador é João Leão, secretário pós-Geddel, que como argumento master diz que os intelectuais estão contra a ponte mas o povo está a favor. E pode falar em nome do povo quem perdeu as eleições? Tem credibilidade para falar pelo povo quem ofendeu políticos íntegros como Moema Gramacho na disputa pelo poder em Lauro de Freitas?

A diferença entre políticos e artistas, governador, é que nós nos admiramos e respeitamos como pares, sem partidos, sempre por um mundo mais belo e honesto. Um mundo melhor. E é por isso que Chico Buarque é contrário à ponte, e sendo artista pode falar pelo povo porque tem o seu respeito e amor. Estar do outro lado de Chico, até em disputa de cuspe a distância, não é bom sinal, governador.

Tem gente que garante que a ponte só vai unir a violência de Salvador à violência de Itaparica, e por isso prefere a Ilha sem ponte, com o sistema ferryboat funcionando, honesto, eficiente, coisas que ele não faz há décadas, minado pela corrupção, providência infinitamente menos onerosa para nós, financiadores da ponte. Conselho não se dá nem a quem pede, governador, mas no futuro, dentro da história que o senhor está tecendo, essa que vem sendo fotografada, filmada, escrita, a ponte que falta é a que liga o povo à educação, para que ele nunca mais precise de intermediários do seu querer. E pra fazer essa ponte, governador, é mais seguro ser parceiro de artistas.

(Revista Muito, jornal A Tarde, 14/02/2010, p. 41)

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