sábado, 27 de fevereiro de 2010

Deixem Ubaldo em paz

Janio Ferreira Soares

(Bahia em Pauta, 27/02/2010)

Apesar de continuar achando que tudo não passa de mais um belo lance eleitoral criado pelos marqueteiros do governo Wagner – certamente apoiado por algum desafeto de João Ubaldo, talvez com raiva por ter levado ao pé da letra o seu romance O Sorriso do Lagarto, e após meses em busca de uma lagartixa feliz só ter encontrado calangos balançando cabeças como se afirmando sua tendência à estupidez -, peço licença (com ar de vênia, em homenagem ao professor Manoel Ribeiro), para meter o bedelho nesse furdunço político-sentimental-arquitetônico que começou depois do anúncio da construção da ponte Salvador-Itaparica, embora eu ache que ela continuará hibernando na prancheta dos sonhos.

Não estou aqui defendendo ou condenando nada, até porque a única ponte que interessa por essas bandas (alô, Aninha Franco!) é alguma que leve a miséria e o analfabetismo para bem longe do sertão e na volta desemboque num desses lugares de sonho que aparecem na propaganda do governo da Bahia – tipo Itacaré. Só acho que velhos baianos como João Ubaldo, Cid Teixeira, Waldir Pires, J. C. Teixeira Gomes, Caetano, Gil e tantos outros, merecem, independentemente de ideologias, um mínimo de consideração. Quando não pelas opiniões, pelo menos pelo jeito bacana de levar a Bahia por aí.

Não conheço João Ubaldo pessoalmente apesar de ter tido um belo álibi para fazê-lo quando, meses atrás, eu estava no Rio e ao sair da livraria Argumento com seu último livro, O Albatroz Azul, o avistei com amigos no boteco Tio Sam. Confesso que se não fosse minha timidez, teria puxado um papo de autógrafo e me apresentado como o cara que, tempos atrás, trocou alguns e-mails com ele a respeito de um artigo publicado no jornal A Tarde, onde eu brincava sobre o que teria acontecido se, em vez de ter ido para Salvador e conhecido Glauber, ele continuasse estudando em Aracaju. Nesse caso, essa ponte seria unanimidade, este artigo não existiria e os lagartos continuariam tristinhos, coitados, apenas balançando suas cabeças e rabos para os imbecis de plantão.

Janio Ferreira Soares, cronista, é secretário de Cultura e Turismo de Paulo Afonso (BA), na região do Vale do São Francisco

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